sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Boneca de porcelana


As vezes sinto um pouco de raiva das outras, por serem bonecas de pano, e eu, apenas uma boneca de porcelana.


Fico encostada no canto, ninguém olha pra mim, ninguém me dá atenção, só porque sou apenas uma boneca de porcelana, gelada, oca, sem graça.

Com as bonecas de pano, todos dão atenção, todos querem tocar, todos querem te-las, porque elas não são geladas, não são ocas, e não são sem graça.


Eu queria ser como elas, queria não ser mais deixada de lado em cima de uma cômoda qualquer, queria que brincassem comigo, não queria mais que me desprezassem.

Porque me fizeram, se ninguém me quer, se ninguém me toca? Porque foram me fazer uma boneca de porcelana, gelada, oca, sem graça.


Dizem-me que as bonecas de porcelana precisam ser cuidadas, precisão ser protegidas, pois se não quebram, viram cacos. Mas então porque fazem-nos assim, geladas, ocas, sem graça.

Queria ser quente, ter um coração, daqueles bem vermelhos, não queria ter um rostinho de porcelana, apenas queria sentir por um dia como é não ser tratada como uma delicada boneca feita apenas com porcelana.


No fundo, pode ser real isso de desprezar-me pra me protegerem, mas só vou ter certeza quando, pararem de cuidar de mim, e me deixarem ser normal, me deixarem ser por um dia uma boneca de pano. Só vou ter certeza quando me tirarem dessa canto e brincarem comigo, sem se importar se eu vou cair e virar cacos , e se isso acontecer, se eu quebrar, só assim acreditarei de verdade que era pura proteção, cuidado e carinho.


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